terça-feira, 11 de novembro de 2008

OS OLHOS E O LÚPUS

Os Olhos e o Lúpus
Por W. Kevin Thomas, M.D.De Lupus Erythematosus, Vol. 2, Atlanta Chapter, Lupus Erythemotosus Foundation, Inc.

O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença de amplo espectro que afeta muitos órgãos e sistemas do corpo, e o olho não é uma exceção. O envolvimento do olho em si é muito mais freqüente do que o envolvimento da órbita, ou soquete do olho.
Contudo, quando há o envolvimento da órbita, isso é frquentemente manifestada pela formação de nódulos na conjuntiva (a camada mais externa do globo ocular e interna das pálpebras). Também pode ocorrer inchaço ou edema das próprias pálpebras.
A alteração ocular mais comum observada no lúpus é a presença de "pontos brancos" na retina, ou membrana do olho. Esses "pontos" representam áreas da retina que estão edematosas devido à diminuição do fluxo sangüíneo, e assim do suprimento de oxigênio, nessas áreas. Essas mudanças na retina são de grande importância para o paciente e para o médico, pois elas normalmente occorem em paralelo com exacerbações no estado geral da doença. Apesar desses "pontos brancos" na retina não serem específicos do lúpus, sua presença em jovens ou pessoas de meia idade podem sugerir a ocorrência do lúpus.
Existem outras mudanças menos comuns que podem se denvolver na retina, isso inclui o acúmulo de células de gordura, que diminui o suprimento de sangue arterial, e a oclusão dos importantes vasos sangüíneos do olho, o que poderia resultar numa significante perda da acuidade visual.
Keratoconjunctivitis sicca, ou a síndrome do olho seco, é outro problema encontrado com freqüência nos pacientes com lúpus. Ela é manifestada com sensação de irritação nos olhos, diminuição de lágrimas, queimação e coceira.
O interessante é que, um aumento paradoxal de aquosidade dos olhos pode ocorrer devido à irritação. Esta é a condição que mais incomoda, e que pode ser tratada sintomaticamente na maioria dos pacientes com medicação adequada.

A ocorrência de keratoconjunctivitis sicca, com sintomas como boca seca e artrite, é a condição conhecida como Síndrome de Sjogren.
O envolvimento do cérebro, ou sistema nervoso central, pode causar cegueira, atrofia do nervo ótico, nistagmo (movimento involuntário dos olhos), ou mesmo a paralisia de vários músculos que controlam os movimentos dos olhos.
A terapia do lúpus e de suas complicações oculares é orientada de acordo com o local da atividade da doença. O uso de repouso, salicilatos (aspirina), antimaláricos (como a cloroquina-aralen, plaquinol) e esteróides (cortisona) podem ser bastante benéfico para o paciente. O uso de certos imunossupressores ainda está sendo estudado.
O uso prolongado de cloroquina (Plaquinol) pode resultar em mudanças patológicas na córnea, na retina, ou em ambas. Os efeitos na córnea (chloroquine kerathopathy) são manifestados como depósitos em forma de redemoinho na própria córnea. Normalmente isso aparece no começo do tratamento, mas some assim que para a ingestão da droga.
Muito mais importantes são os efeitos da cloroquina sobre a retina (que contém os bastonetes e cones). A concentração da droga em certas camadas da retina pode levar à sua ruptura causando um problema chamado maculopatia. Com esse problema ocorre a perda da acuidade visual, que é irreversível mesmo quando a ingestão da droga é interrompida. Devemos observar, entretanto, que o risco de envolvimento da retina é maior após dois anos de tratamento ou em pacientes com mais de 60 anos. Uma vez desenvolvida e retinopatia, não há como revertê-la. Por tudo isso, recomenda-se um exame oftalmológico completo, que inclui fotografias da retina, antes de começar a terapia com cloroquina e há cada 3-6 meses, de acordo com a dosagem.

O esteróides (cortisona) também são usados com freqüência no tratamento do lúpus. Esse medicamento pode ser ministrado via oral, ou usado em gotas diretamente nos olhos para tratar de problemas visuais. Por qualquer forma de aplicação, pode se desenvolvida a catarata e, de fato, 40% dos pacientes que usam esteróides por um longo tempo vão desenvolvê-la. Doses de 15mg diárias de prednisona por mais de um ano seguido, podem aumentar significativamente as chances de se desenvolver catarata.
Aumento de pressão intra-ocular (ou glaucoma) também pode ser resultado do uso prolongado de cortisonas, especialmente naqueles pacientes que já têm histórico da doença na família. O glaucoma é uma doença especialmente complicada, pois geralmente não apresenta sintomas e pode levar à cegueira.
Embora o aparecimento de catarata ou glaucoma possa ocorrer durante o tratamento do paciente com lúpus, isso não significa que ele/a ficará cego. A catarata pode ser eliminada com modernas técnicas cirúrgicas, onde o cirugião faz uma incisão no olho de apenas 3 milímetros. Após a remoção da catarata, a visão normal pode ser obtida com a implantação de lentes pláticas no olho; ou com lentes de uso prolongado que podem ser removidas pelo médico ou pelo próprio paciente há cada seis meses. Assim, o desenvolvimento de catarata não deve ser considerado como um problema maior pelo paciente com lúpus.
Mesmo o tratamento do glaucoma tem mudado radicalmente nos últimos anos. O tratamento mais efetivo para essa doença inclui, simplesmente, o uso de colírio pela manhã e à noite; e, normalmente, só isso é necessário para controlar a doença na maioria dos pacientes. Ocasionalmente, pode ser necessário uma cirurgia. Nesse caso, o advento de novas técnicas de microcirurgias tem melhorado bastante o tratamento do glaucoma.
Além do que já foi mencionado acima, o paciente com lúpus pode ser suscetível a hemorragias e oclusão dos vasos sangüíneos na retina. Isso pode ser em decorrência da própria doença, e não das terapias acima citadas.
Hemorragias retinais também são significativas e podem levar à diminuição da visão e cegueira. Entretanto, mesmo nesse caso, os avanços nos últimos anos têm melhorado bastante o prognóstico desses pacientes. O Laser é usado com freqüência nesse tipo de problema para estancar os vasos sangüíneos, além de ser usado nas cirurgias oculares, não sendo necessária nehuma incisão.
NOTA: Esta informação já tem mais de 10 anos mas ainda é pertinente em uma série de aspectos.

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