quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O LÚPUS E PROBLEMAS DE PELE (i)

O Lúpus e Problemas de Pele
Thomas T. Provost, M.D.Noxell Professor and ChairmanDepartment of DermatologyThe John Hopkins School of Medicine, Baltimore, MD

Problemas de pele são muito comuns no lúpus eritematoso, ficando em segundo lugar como sintoma mais freqüente, atrás apenas da artrite. Aproximadamente 20% das pessoas com lúpus eritematoso sistêmico (LES) vão apresentar lesões cicatriciais em forma de anel ou disco como sintoma inicial da doença. E mais: estima-se que de 60 a 65% das pessoas com LES irão desenvolver erupções ou lesões cutâneas em algum momento durante o curso da doença. Entretanto, com o uso de esteróides por via oral (Prednisona) e drogas antimaláricas (hidroxicloroquina, ou Plaquinol), o aparecimento dessas lesões na pele têm sido menos freqüente.
As erupções e lesões cutâneas do lúpus eritematoso podem ser divididas entre aquelas que são específicas do lúpus e outras que podem ocorrer também em outras doenças (lesões não específicas). Existem duas lesões específicas associadas ao lúpus eritematoso: lesões discóides (características do lúpus eritematoso discóide), e lesões em forma de moeda, sem cicatriz (características do lúpus eritematoso cutâneo subagudo).

Lesões Discóides
O termo discóide é um termo muito confuso que, infelizmente, é indevidamente usado por muitas pessoas, inclusive médicos. O termo discóide significa simplesmente de forma circular, como uma moeda. As lesões cicatriciais discóides, normalmente observadas em áreas da pele expostas ao sol foram denominadas lúpus eritematoso discóide. Essa denominação refere-se apenas à descrição da lesão lúpica na pele e não deve ser empregada para distinguir o lúpus cutâneo do lúpus eritematoso sistêmico. Um médico não pode determinar se a lesão lúpica discóide na pele ocorre na presença ou na ausência de características sistêmicas, apenas observando a forma da lesão. Isso só pode ser feito através de um exame clínico completo, com a correta interpretação dos exames sangüíneos apropriados.
Qual a relação entre o lúpus discóide e o lúpus eritematoso sistêmico? Essa é uma pergunta muito comum.
O lúpus eritematoso deve ser visto como o conjunto de um espectro da doença. Numa das pontas do espectro, na sua forma mais suave, é caracterizada pelas lesões cutâneas discóides cicatriciais, às quais nos referimos como lesões discóides. Na outra ponta do espectro estão aqueles pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, sem lesões na pele, mas com características sistêmicas (ex. artrite ou problemas renais). As pessoas apenas com lesões discóides e sem nenhuma característica sistêmica, normalmente não têm auto-anticorpos em seu soro (ex.: os exames de anticorpos antinucleares ou anti-DNA são negativos). Por outro lado, as pessoas com lúpus eritematoso sistêmico são caracterizadas pela presença de um ou mais tipos de auto-anticorpos em seu sangue. Com base em experiência pessoal e revisão da literatura, estima-se que de 5 a 10% dos pacientes que inicialmente apresentam apenas as lesões discóides, com o tempo, desenvolvem características sistêmicas.
Como mencionado acima, aproximadamente 20% das pessoas com lúpus eritematoso sistêmico vão apresentar, no início de sua doença, lesões discóides. Esses dados indicam que, ocasionalmente, o processo do lúpus seja dinâmico e, com tempo, um pequeno percentual daqueles pacientes que têm apenas lesões discóides, eventualmente irão desenvolver a forma sistêmica da doença. Além dessas lesões discóides cicatriciais, existem vários diferentes tipos de lesões lúpicas discóides com as quais o pacientes deveria se familiarizar. Ocasionalmente, as lesões lúpicas discóides podem ocorrer no couro cabeludo, produzindo uma calvície cicatricial localizada chamada alopecia. Outras vezes, essas lesões discóides podem aparecer por sobre a parte central da face e nariz, produzindo a característica lesão em forma de "asa de borboleta".
Esse tipo de lúpus tem, obviamente, significativas implicações cosméticas. As lesões lúpicas discóides podem desenvolver crostas grossas e escamosas (hiperqueratônicas), sendo denominadas lesões lúpicas hiperqueratônicas ou hipertróficas. Essas lesões também podem ocorrer na presença de espessamento (enduração profunda) das camadas da derme. A isso chamamos lupus profundus.
Até o momento, as pesquisas indicam que as lesões discóides são resultados de um processo inflamatório na pele onde os linfócitos do paciente (predominantemente as células T) têm um papel considerável. Isso é um contraste com o lúpus eritematoso sistêmico, onde anticorpos e complexos imunológicos são responsáveis por muitos dos sintomas clínicos.

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